Camacan, Itaparica, Mutuípe e Santo Amaro já estão entre as 10 cidades da Bahia que menos aplicaram a 2ª dose contra a Covid-19, mostra dados; saiba mais

 


A Bahia tem o nono pior índice de vacinação do país, ficando à frente apenas dos estados amazônicos: Tocantins, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Amazonas e Acre. O problema, porém, não é a falta de imunizante, mas a baixa procura das pessoas aos postos. Das 417 cidades baianas, 261 não chegaram ainda a 50% da população vacinada com as duas doses contra a covid-19. Em sete municípios, menos de 20% dos habitantes completaram o esquema de duas injeções. O baixo percentual de vacinação também é compartilhado pelo estado como um todo, que está com menos de 50% da população imunizada com as duas doses.

De acordo com os dados da Secretária da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), apenas 7,3 milhões de pessoas tomaram as duas doses de vacina no estado, o que equivale a cerca de 49% da população. O índice é ainda inferior ao de outros estados nordestinos, como Paraíba, Pernambuco e Piauí, que já estão com cerca de 75% da população completamente vacinada. No caso dos estados da região amazônica, a baixa adesão à vacinação tem relação com as distâncias e dificuldade de acesso aos postos em algumas localidades.

Para chegar aos números da vacinação nas cidades baianas, a reportagem consultou os dados da Sesab com a quantidade de doses aplicadas em cada cidade, e a estimativa populacional mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, foi calculado o percentual da população imunizada levando em conta o total de habitantes, embora o público alvo da campanha de vacinação seja ainda as pessoas a partir de 12 anos.

Prefeituras alegam falhas em sistema

No geral, as prefeituras baianas argumentam que não vacinaram tão pouco, criticam a estimativa de população feita pelo IBGE ou alegam problemas com o sistema da Sesab na atualização dos dados, o que ocasionaria esses índices. A cidade baiana que tem o pior desempenho na vacinação é Camacan, na região sul. De acordo com os números da Sesab, o município de cerca de 30 mil habitantes só vacinou completamente 13,9 mil pessoas, o que equivale a 12% da população.

Maria Hortência Carvalho Neto, coordenadora de imunização do município, diz que esses números não refletem a realidade da cidade e confessa que não tem atualizado os dados há um bom tempo. “Realmente, eu fiquei um bom tempo sem atualizar e o secretário já me cobrou para que eu faça isso. Provavelmente amanhã teremos os números atualizados”, disse. Ela apontou o foco das equipes na vacinação como motivo do ‘esquecimento’.

“Outras demandas apareceram, veio a correria no dia a dia, o sistema também ficava instável… não tem sido um processo fácil. Se eu parasse para atualizar os dados, não ia ter tempo de organizar a vacinação”, comenta. Ela também relata que tem recebido vacinas perto da data de vencimento, o que exige agilidade de toda a equipe. “Já teve caso de receber doses que iam vencer em uma semana e tivemos que correr, ir até a casa do povo, para não perder nenhuma dose”, diz.

Outras cidades apresentam dados divergentes

A segunda cidade que menos vacinou na Bahia é Itaparica, de acordo com os dados da Sesab. A prefeitura local reclama da demora em atualizar os números no sistema estadual. “A secretaria de saúde lança para a Sesab os dados, mas parece que eles mesmos lá demoram para registrar no sistema. É igual ao que acontecia com os casos de covid, que as vezes demoravam para ser registrados”, disse a prefeitura por meio da assessoria.

De acordo com a Sesab, Itaparica só vacinou 2,9 mil pessoas com a segunda dose, mas a prefeitura afirma que 8 mil pessoas já concluíram a imunização, o que daria um percentual de 36% de vacinados. Ainda assim, bem abaixo dos 50%. Situação similar ocorre em Santo Amaro. Por lá, segundo a Sesab, 8,5 mil pessoas estão totalmente imunizadas, o que corresponde a 14% da população. Mas a prefeitura informa que 28 mil pessoas já completaram o ciclo, o que dá 46%, também abaixo dos 50%.

O secretário da Saúde de Santo Amaro, José Sergio Coelho de Santana, alega também a falta de consolidação dos dados: “Tem pouco tempo que assumi, houve troca na pasta há um mês. Ao assumir, identifiquei que os agentes estão vacinando, mas não fizeram o processamento, a consolidação no banco de dados. Para os órgãos de controle, o que vale é o que está consolidado no sistema. Mas já montamos uma força-tarefa para lançar no sistema. Antes era uma pessoa só fazendo isso e são 17 PSFs, mais a equipe da vacinação, o fluxo era maior de vacinação do que de lançamentos”, afirma.

Em nota, a Sesab disse que houve uma atualização no sistema de envio de dados da vacinação e nem todos os municípios fizeram o carregamento das informações relativas ao público vacinado. “Desta forma, os números apresentados no vacinômetro correspondem apenas ao totalizado por alguns municípios, dando a impressão de queda na cobertura vacinal”.

A pasta também pede que todas as cidades atualizem corretamente os dados. “Todas as informações que são disponibilizadas são dados preenchidos pelos municípios nos sistemas de imunização. Para que a Secretaria da Saúde do Estado possa atualizar qualquer dado, é necessário que as secretarias municipais façam a alimentação dos sistemas. Neste momento, há uma defasagem nas informações por conta de uma atualização no sistema do Ministério [da Saúde], fazendo com que todos os munícipios tenham que alimentar novamente as bases de dados”, afirmou.

Para o cientista de dados Angelo Loula, esta situação faz com que a população não saiba de fato o que é realidade nos números de vacinação, o que dificulta a tomada de decisões e realização de estudos sobre o tema. “Desde setembro parece que a situação só piora e a gente sempre fica desconfiando se os números são reais ou não. Já teve dia, por exemplo, que foi divulgado óbito negativo, como se alguém tivesse ressuscitado. Nós, cientistas, tentamos capturar a tendência e não os números em si para analisar a pandemia”, explica.

SMS diz que não tem doses de vacina perto de vencer 

Na capital, a situação da vacinação é mais tranquila do que no restante do estado. Salvador já aplicou quase 1,7 milhão de segundas doses, o que equivale a 57% da população. Ainda assim, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) alerta que é preciso acelerar a imunização e, para isso, as pessoas precisam retornar para tomar a segunda dose. “O importante é que a população esteja consciente que a imunização só é completa com o esquema das duas doses e a proteção é reforçada com a terceira dose”, diz a pasta, em nota.

Nesta quinta-feira (25), a SMS iniciou as aplicações das primeiras e segunda doses para qualquer pessoa oriunda do interior do estado, independentemente de ter ou não o nome na lista. A pasta afirmou que a decisão não tem nenhuma relação com vacinas perto da data de vencimento.

“A gestão dos imunobiológicos é realizada frequentemente e, no momento, não existe nenhuma vacina com a data de validade próxima ao vencimento. Não estamos tendo perda de doses. O monitoramento também é feito diariamente nos pontos de vacina para que não existam sobras ao final de cada dia da vacinação. Temos em estoque o quantitativo de doses necessário para garantir a imunização de todos os habilitados”, acrescenta a nota.

Na quarta-feira (24), a Sesab divulgou uma nota alertando para o risco da perda de vacinas por causa dos quase 3 milhões de baianos que não retornaram aos postos ainda para tomar a segunda injeção ou o reforço. A reportagem perguntou para a pasta estadual a quantidade exata de doses que podem ser perdidas, bem como o que tem sido feito para evitar o problema, mas não obteve retorno até o fechamento da edição, às 23h.

10 municípios que menos aplicaram a segunda dose: 

Camacan – 12,17%
Itaparica – 12,84%
Santo Amaro – 14,05%
Maiquinique – 15,02%
Madre de Deus – 16,81%
Mutuípe – 16,91%
Lamarão – 19,85%
Esplanada – 20,19%
Nova Soure – 21,13%
Itamaraju – 22,27% (Correio da Bahia)

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